segunda-feira, 10 de maio de 2010

Telefone

-É melhor você ficar em silêncio.
-Eu sei, mas é bem doloroso.
-Acredite, será bem mais doloroso se você falar.
-Não sei porque ainda falamos disso...nunca teria coragem mesmo.
-Só estou aqui para não te deixar cometer um erro.
-Pra você é sempre mais fácil.
-Não disse que não era, mas estamos falando de você, não de mim.

Edvaldo caminha em direção da cozinha.

-E se ela sente o mesmo?
-Se ela sentir o mesmo, não vai dizer...no mínimo vai fingir que nunca pensou nisso, mesmo sendo mentira.
-Eu ligo pra ela como quem não quer nada, deixo ela dizer o que sente, sem nem saber o que sinto.
-Não seja estúpido. Por que você acha que mulheres são tão cheirosas e macias?
-Por que?
-Pra compensar a maldade que existe dentro delas, a necessidade de ser desejada pra depois poder esnobar, essas coisas.
-Você está exagerando.
-Se você quer tentar, vai em frente.
-Vou sim. Antes nem pensei em ligar mesmo, tava só desabafando, mas toda essa besteira me deu coragem, nunca ouvi tanta merda junta.

Edvaldo pega o telefone, logo após o desliga.

-Chamou e não atendeu, depois eu ligo de novo.

Nunca mais ligou.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Tudo é Tão Pouco

Tudo que lhe completava
Tudo estava por um fio
O que queria era tão pouco que quase não havia mais
Era tão simples e sem gostos
Tão firme em seu ideal de ser flexível e cômodo
Tão revolucionário em busca da existência inexistente
Empunhava uma arma para mostrar que era contra as guerras
Orava e dormia
E acordava esquecido
Dormia um pouco mais e acordava lembrando
E todos os dias, tudo que lhe maltratava o corpo lhe fazia bem a alma
Pra não existir fez esforços múltiplos
E por não querer existir, simplesmente cansou e se foi
E hoje ainda existe bem pouco
Mas por bem pouco tempo
Mais dois meses e seu investimento na própria inexistência dará resultado
As pessoas se encantam pela tragédia...até surgir uma mais nova.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Noivado

Tecnicamente já era um outro dia
Passava da meia noite e em nenhum dos dois o sono vinha
Na manhã seguinte haveria uma reunião de família
Eles pretendiam anunciar a data do casamento
Não fazia sentido algum naquilo
Há 5 anos já repousavam na mesma cama
Há 3 anos já não sentiam a empolgação de outrora
A paixão tinha ido e eles nem lembravam quando tinha sido
Ele se perguntou durante toda a semana o motivo daquilo
O sexo já era bem comum
Se sentia mais excitado quando os dois bebiam
Ver a mulher sem tanto pudor o deixava louco
Mas a mulher bebia de acordo com a lua
Era muito raro
Nunca traiu, apesar de desejar pelo menos 3 mulheres por dia
Ela já se sentia segura com ele
Proteção é o que mais queria
Ela era a pessoa mais inteligente da sua turma de faculdade
A mais inteligente de qualquer grupo em que estivesse inserida
Teoricamente não dependeria de ninguém pra nada
Mas era dependente dele
Também se sentia atraída por outras pessoas
Mas em nenhum momento chegava a se imaginar tocando a outra pessoa
Era o perfeito retrato do casal médio
Combinavam intelectualmente
Conversavam horas e mais horas e nunca se cansavam
Não dessa vez
Pareciam um pouco aflitos numa noite sem sexo e sem conversas
Iam oficializar o que já acontecia há algum tempo
Mas nada ia mudar e esse era o medo
As vezes, a melhor forma de arruinar algo é tentar evoluir.